Fale agora ou cale-se para sempre
Ontem fui acometida por uma afonia, suponho eu, efeito da minha rinite que gosta sempre de aparecer nestas alturas outonais. Não sei se é frio, se é a humidade ou o alinhar dos astros no céu, mas ano vai, ano vem, por esta altura cala-se o pio da Fatia.
Isso até não teria mal nenhum se eu não dependesse do aparelho vocal para trabalhar. Por isso, muni-me de medicação, enfiei euphons no bucho e esperei, pacientemente, que um dia de silêncio absoluto e rigoroso servisse para curar este flagelo.
As Fatias pequenas estavam loucas com a situação! Tão depressa gesticulavam, como baixavam a voz para falar comigo ou ficavam confusas pelo facto de não obterem resposta a cada questão que faziam. O mais pequeno, então, fazia um esforço para me fazer gritar, empoleirando-se em tudo que era móvel e cadeira. Mas o mais curioso é o comportamento dos adultos, que insistem em fazer perguntas para eu responder, rendendo-se depois à evidência que, mesmo que eu quisesse, nem um fio de voz sairia da minha boca.
Valha-nos nossa senhora dos aparelhos digitais que facilita a comunicação nestes dias.
Apesar de tudo, devo confessar, que este dia de voto de silêncio me soube pela vida. O facto de não podermos falar faz com que abdiquemos com mais facilidade do controlo das coisas à nossa volta, motivo pelo qual o esforço de ontem voou todo para as costas do Fatiasman.
Uma maravilha!! Estou seriamente a considerar instituir um dia de silêncio. De preferência sem o resto dos sintomas, passado num SPA e com um copo de vinho tinto na mão. Ou talvez não... Não vá eu tomar-lhe o gosto e calar-me para sempre. É que ainda gosto de trocar duas de letra.