Do corpo
Reflexões do fim do dia
Não somos o nosso corpo. Temos de ser mais do que esta coisa perecível, com prazo de validade, com defeitos que nos limitam, nos constrangem. Somos mais do que este corpo. Somos mais do que a beleza ou a jovialidade que, um dia, se esgota. Somos mais do que as dores, as maleitas. Mesmo que estes processos orgânicos nos digam quando comer, quando fugir, quando reproduzir, somos maiores do que isso. Temos em nós o impulso, a paixão, a drive. Somos mais do que o corpo que nos coloca em movimento. Somos a força desse movimento, somos a vontade dessa ação, somos o desejo, a capacidade e a ostentação do resultado.
Por isso, deixemos de olhar ao corpo como se fosse a medida do nosso valor, como se determinasse a nossa importância do mundo, como se as características que ostenta fossem aquilo que nos define, que nos personaliza, que nos dá identidade. Não é do meu corpo que eu emano. O corpo sustenta-me, mas não me define. Seremos assim tão ilusoriamente apegados aquilo que um dia abandonaremos ao destino da decomposição? E mesmo que a consciência cesse, que a mente desapareça, que a inteligência se extinga, até aí teremos sido mais, muito mais, do que aquilo que o corpo é...
(P.S. já corrigi várias vezes o post e permanece inalterado)