Há uns dias escrevi (e deixei nos rascunhos) um texto doloroso sobre o que é trabalhar na "academia".
Desde que me lembro de mim, enquanto pessoa, aprender algo novo sempre foi algo que me deu prazer. Costumava dizer, meio-a-brincar-meio-a-sério, que não me importava de estudar a vida toda. Se me pagassem para isso, melhor!
Apesar de tudo, quando terminei a minha licenciatura (ainda nos moldes "antigos"), via-me a trabalhar na minha área com o mesmo prazer com que me via a estudar a vida toda. Por isso, quando apareceu a oportunidade - caída do céu, diga-se - de começar a dar aulas na casa onde eu própria me formei, agarrei-a, sem olhar para trás. E para trás ficou uma excelente oportunidade de trabalho que surgiu, pouco tempo depois, numa multinacional do retalho. Ia estudar o resto da vida, mas ficava feliz por isso.
O problema - e claro que há sempre um problema na ingenuidade dos 23 anos - é que quando estudamos, na "escola", o propósito é suplantar as nossas próprias dificuldades. Se não o era para a maior parte das pessoas, para mim, era o facto de crescer enquanto saber que adquiria e não tanto o destaque de ser bom nisto ou naquilo. Porém, ao longo dos catorze (um 1 e um 4, yep, está certo) anos que levo disto, descobri que neste meio somos constantemente enfileirados em rankings, critérios e medidas de excelência, para que nos destaquemos constantemente junto dos pares ou organizações similares.
Deixei de ter de saber por mim, pelo meu gosto pessoal, para ter de saber e mostrar esse saber a todos os outros, preferencialmente através das revistas em que publicamos, os centros de investigação a que pertencemos, do financiamento e internacionalização dos projectos que desenvolvemos, etc. Tudo é uma medida de sucesso, de excelência.
Mas sabem, isto é exactamente como a riqueza. Não podemos ser todos ricos. Também não podemos ser todos bons, nem todos excelentes, nem todos "O" melhor investigador. E como todos os sistemas, há um certo viciamento, porque o destaque granjeia-nos mais oportunidades que, por sua vez, nos granjeia mais destaque, e por aí adiante.
Em jeito de aliviar esta tensão, sigo uma página no facebook, a Shit Academy Say, uma comunidade que meio-a-sério-meio-a-brincar vai colocando o dedo na ferida. Logicamente, a academia não é idêntica em todos os lados do mundo, a nossa certamente terá diferenças profundas em relação a outras, em meios maiores e mais competitivos, mas o sentimento que nos anima é o mesmo. E hoje, quando li isto, concordei em absoluto:
![75407751_2569471149941333_7129750985303392256_n.jpg 75407751_2569471149941333_7129750985303392256_n.jpg]()
Eu vivo constantemente a dizer a mim mesma que, se não fosse pela família, pelo cérebro cansado, pelas mil e uma tarefas, pedidos e exigências, conseguiria chegar lá. Que isto não é um traço meu - o não ser excelente - mas sim um estado, que mais tarde ou mais cedo vai modificar-se.
Pois hoje, sem derrotas e sem hipocrisias, reconheço que ser bom terá que ser suficiente. E não há problema nenhum nisso. Tenho que fazer as pazes comigo, sobre esta incapacidade de ser excelente, caso contrário, qualquer dia desisto de aprender.