Há anos que se fala que a media veicula uma ideia prototípica da mulher. Alguns acusam-na de não ser a mulher "real", por oposição a uma construção propositadamente perfeita, quase ao molde, do que poderíamos ser. Se é real ou não, não sei. A realidade é demasiado diversificada para ser padronizada, ainda que haja um relativo padrão de beleza vigente.
Mas, com a voz popular a exigir um conjunto diferenciado de modelos que nos sirvam de referência, estamos a esquecer-nos de uma exigência, cada vez mais premente nas figuras vinculativas da nossa sociedade.
Ser-se jovem está na ordem do dia. Os 50 são os novos 40; os 40, os novos 30; os 30 são os novos 20... E acho que só não nos estendemos mais na escala de analogias temporais porque ninguém quer voltar a ter 10 anos.
Queremos e exigimos de todos um espírito jovem. E a condizer, um corpo jovem. E aqueles que ousam envelhecer, sem medo do que o avançar da idade possa trazer, são considerados desleixados. Até o cabelo branco tem que estar arranjado, tem que ser prata e nada de misturas. Se é para ser branco, pinte-se de branco e pronto.
O segmento da saúde, da longevidade, traz consigo a premissa de que podemos ser jovens por muito tempo. Idades biológicas por oposição à idade cronológica; experiências por oposição à consolidação; a responsabilidade é relativizada; o impulso é considerado uma ousadia determinante ao sucesso pessoal, à realização pessoal. Misturamos tudo, num batido proteico, bebemos pela manhã e esperamos que a juventude nos acompanhe até ao túmulo.
Nada contra permanecermos jovens de espírito. Acreditarmos numa visão optimista face ao futuro. Esperar o melhor. Esquecer as crenças antigas e mantermo-nos nos novos ideais. Nas novas ideias. O inconformismo característico da juventude não é uma má característica.
Mas deixem-nos ansiar pela paz e calmaria da experiência que nos permite distinguir, a léguas, as consequências dos riscos que nos predispomos a correr. Ninguém vai ser jovem para sempre.
Parafraseando Queen:
Who wants to live forever anyway.