Nunca delirei com o Carnaval. Acho, até, que o termo certo é que nunca gostei. Mesmo quando tinha o desejo íntimo e nunca expresso (e como tal, nunca atendido) de ir vestida à Dama Antiga, o Carnaval nunca me falou à alma.
Não sei se para isso contribuía o frio que se fazia sentir sempre nesta altura do ano; o cheiro bafiento dos fatos que envergávamos; ou o sentimento deprimente de circular pelas ruas da cidade, cheios de comparsas que vinham atirar-nos bolinhas de papel, serpentinas e às vezes coisas menos boas, como ovos ou água com vinagre.
Portanto, para mim, aquela célebre frase de "é carnaval, ninguém leva a mal", nunca pegou. Eu levava a mal e não era pouco!
Mas, entretanto, temos filhos.
Deixei-me contar-vos um segredo: sempre acalentei a esperança de que os meus filhos detestassem o carnaval (aliás, tudo o que envolva máscaras). Mas, infelizmente, naquele debate natureza vs. meio, parece que fiquei a perder. A Fatia#1 revela-se uma foliona e anda a falar deste acontecimento desde que o tema do Natal esmoreceu.
Para ajudar à festa, comprei-lhe o fato que ela tanto desejava (ao contrário de mim, não se coíbe de pedir).
Escusado será dizer que, desde que o comprei, todos os dias há romaria ao armário para garantir que o ex-libris não fugiu para parte incerta, deixando-lhe o coração destroçado e, os planos de brilhar, pela rua da amargura.
Ontem, começou o disco riscado em acção... "Oh mãe, o desfile está quase. Eu quero ser maquilhada, e quero o cabelo assim, e quero o resto assado..." E cozido e frito, com direito a entrada, amuse-bouche, limpa-palatos e tudo e mais qualquer coisinha!
Assim, amanhã, têm aqui uma FatiaMor que vai ter que acordar antes da hora habitual para aprontar a donzela com todos os "éfes" e "érres" de quem se quer mascarar de forma adequada e ser a mais bela de todas...
E agora, deixo-vos a adivinha... Sabem do que se quer mascarar esta minha filha?! Uma pista: devem haver mil, pelo menos!